sexta-feira, 15 de março de 2013

Budapeste



Não são suficientes um par de palavras para demonstrar o que sentimos por uma cidade e um país que nos acolheu como sua habitante por mais de 2 anos. Mas considerarei estas palavras como um início de muitas outras que se seguirão, sobre as suas comidas, o seu povo, os seus lugares e as suas tradições.

Para mim Budapeste não é sempre amarela – como dizia Chico Buarque, cantor e escritor brasileiro no seu livro Budapeste. Na minha percepção esta cidade têm duas cores. No verão é amarelada, e no inverno é cinzenta ou cru. O céu fica prateado, com o sol sempre escondido,  refletindo-se esta cor no Danúbio e em toda a cidade.  No Verão, as manhãs, os entardeceres e até os próprios edifícios possuem o tal tom torrado que Chico falava.









Budapeste para mim é a minha Paris, a minha cidade do amor. Várias zonas da cidade, para não dizer quase todas, se enquadram num bonito postal ou são cenário perfeito para qualquer fotografia ou filme, sendo Budapeste profissional na arte de camuflagem, passando facilmente por uma Paris ou Moscovo.

No seu curto verão, esta cidade é extremamente quente, tão quente como uma cidade do sul da América Latina nos seus verões.  É difícil encontrar árvores pelas ruas, pelo menos árvores que proporcionem uma sombra justa aos  seus habitantes diurnos. Mas há sempre a opção de encontrar um esconderijo na Ilha Margarida, no parque da cidade, na Erszebet Tér entre outros locais. Aqui no Verão é rotineiro levar as suas bebidas e comidas, juntando-se num solarengo fim-de-semana no parque, como de um piquenique volante e improvisado se tratasse. Comem-se paprikas cruas, hamburguers grandiosamente saborosos e bebem-se cervejas bem geladas.


Apesar de o Inverno ser longo – tal como os outros países da região – há algo que valorizo muito nesta cidade e na Hungria no geral: as Estações extremamente bem definidas. Aqui um projeto de fotografia é bastante compensador pois a paisagem modifica-se significativamente.  Entre a neve adormecida nos telhados aos rebentos verdes nas bonitas árvores da Andrassy. Entre  as árvores de copa cheia no Verão às de folhas amareladas e laranja do Outono.


Todas as cidades, sobretudo as europeias, possuem um grosso livro de histórias que as marcaram quer física ou culturalmente, mas aqui tudo parece ter acontecido há uns 5 anos atrás. As cicatrizes deixadas pelas várias guerras e conflitos estão ainda presentes nos edifícios, e na maior parte das vezes é de propositado – talvez para nunca esquecer? Talvez. Também é curioso relembrar que os dias festivos da Hungria são muitas vezes memorandos de batalhas em guerras anteriores, e a perda humana que trouxeram – e ano após ano a cicatriz é marcada na cara desta charmosa Mulher que é a Hungria e a sua esplêndida filha Budapeste.

É uma cidade que eu considero única e penso que para sempre será a minha segunda casa “dos meus tempos de juventude”. O Danúbio é tantas vezes mencionado em canções, filmes ou nomes de pessoas que quando o conheci pessoalmente entendi todo o encanto que o envolvia. Um rio que une países e cidades igualmente únicas e bonitas. Sendo Budapeste, para mim, a sua pérola preciosa. Para entender esta visão, estar em  Vigadó tér ajuda a tirar todas as dúvidas. Basta admirar toda a paisagem, quer noturna ou diurna, da ponte das correntes, o castelo no cimo da colina, o bastião dos pescadores, os barcos que por ali passam... – é uma miragem verdadeira e única. As fotografias não lhe fazem justiça. É necessário estar incluído neste cenário, sentir e perceber a grande dimensão que ele têm e os sentimentos que nos transmite.






Por fim, o que eu mais gosto em Budapeste é a facilidade com que conseguimos chegar a qualquer lado, quer de transportes públicos ou de carro. A extensa oferta cultural e a sua acessibilidade.  A facilidade com que na mesma semana se pode ir à Opera, ao Teatro, a um Club mais requintado ou a um "romkocsma" – sem empobrecer a conta bancária. 
Nas noites de Budapeste o mais típico são sem dúvida os “ruin pubs” ou em húngaro “romkocsma”, onde vale mencionar desde o turístico Szimpla, Grandio, Ankert entre muitos outros. Basta apenas caminhar pelas ruas do distrito VI e VII e prestar atenção aos bares que se prestam pela frente. A  oferta é grandiosa, criativa e surpreendedora. 

Fica esta minha primeira impressão sobre uma cidade que chamo minha, e pela qual me sinto sempre em casa quando volto. Terei de dedicar algum tempo para falar sobre o povo húngaro, igualmente acolhedor e particular – pois ter amigos húngaros é um saboroso capricho que só alguns se podem dar ao luxo de ter.

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